segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Breve História dos Quadrinhos (parte 2)



A popularização dos quadrinhos e o amadurecimento das crianças e adolescentes das décadas de 30 e 40 ajudaram a uma proliferação de artistas e personagens voltados também ao mundo adulto. Ainda na década de 50, Harvey Kurtzmann lança a revista "Mad", uma inovadora publicação que ironizava o estilo de vida norte-americano. Na França, no começo dos anos 60, surge "Barbarella", de Jean-Claude Forest, uma espécie de feminista intergaláctica insaciável sexualmente. Da França vem também Moebius que com seus desenhos e histórias futuristas viria a inspirar décadas depois produções hollywoodianas como "Alien" e "Tron". Em meados da década de 60, o italiano Guido Crepax mudou a diagramação tradicional dos quadrinhos e usou para isso "Valentina", uma das mais bonitas e sensuais heroínas dos gibis. Mas o ápice das revoluções sessentistas nos quadrinhos veio com a obra underground de Robert Crumb. Criador de "Fritz The Cat" e "Mr. Natural", ele escrevia e desenhava histórias que beiravam a pornografia, mostravam o consumo de drogas, narravam incestos e faziam duras críticas políticas e sociais ao estilo de vida norte-americano. Uma forma de manifestação artística totalmente afinada com a contracultura das décadas de 60 e 70.

Outro artista fenomenal da arte dos quadrinhos foi Will Eisner (1917-2005). Com uma produção inovadora desde os anos 40, quando lançou "The Spirit", uma série de historinhas que revolucionou a linguagem dos quadrinhos, com o uso de elementos visuais cinematográficos, Eisner protagonizou nos anos 70 mais um salto de patamar na arte dos quadrinhos. Com a obra “Um Contrato com Deus”, lançada em 1978, ele torna mais elaborada a estética dos quadrinhos com a popularização das graphic novels. Apesar de ser um tipo de álbum gráfico que já existia desde os anos 60, como nas publicações das historinhas de Tintin e Asterix, as graphic novels a partir do trabalho de Eisner ganham uma densidade visual e de narrativa que as assemelharam às melhores obras literárias da época. Em sua narrativa autobiográfica sobre os fatos e personagens dos cortiços do bairro nova-iorquino do Bronx nos anos 30, Eisner apresenta um olhar único sobre a vida dos imigrantes, suas emoções e conflitos culturais.


                                             


Mas o universo infantil continuava a gerar uma riqueza de historinhas e personagens para os quadrinhos. No Brasil, na virada dos anos 50 para os 60, Maurício de Sousa começou a criar uma série de personagens que virariam sucesso nacional. A “Turma da Mônica” nasceu com Franjinha e seu cachorrinho Bidu em tiras publicadas na Folha de S. Paulo em 1959. Nas décadas seguintes, Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento e toda a turma ganhariam seus gibis e o sucesso dos personagens e suas historinhas fizeram de Maurício de Sousa um dos grandes nomes dos quadrinhos internacional.

                                   


Os anos 80 iniciaram uma nova era de ouro para os quadrinhos. Naquela década, houve a consagração das graphic novels não só como um formato mais sofisticado para os gibis, mas também como um veículo que permitia novas experiências visuais e de roteiro para os artistas. Mas o mais importante é que apareceu uma nova geração de criadores geniais, como Frank Miller, Neil Gaiman e Alan Moore. Assim, já não havia mais como negar o reconhecimento das histórias em quadrinhos como uma nona arte. E o marco para isso foi o lançamento em 1986 da mini-série “O Cavaleiro das Trevas”, a versão de Frank Miller para a história do Batman. Não foi só o tratamento artístico diferenciado ao visual de Batman, seus inimigos e Gotham City, que fez da graphic novel um marco. Foi principalmente o aspecto soturno, sério, a complexidade psicológica dos personagens e uma trama que revelava os conflitos internos do herói que fizeram de “O Cavaleiro das Trevas” uma referência para uma nova era dos quadrinhos. A segunda metade da década de 80 traz ainda outras obras-primas como “Sandman” e “Orquídea Negra”, de Neil Gaiman, “Watchmen” e “V de Vingança”, de Alan Moore, e “Akira”, de Katsuhiro Otomo.

                                                   

Paralelamente à evolução dos quadrinhos ocidentais, os mangás, a forma japonesa de fazer historinhas em quadrinhos, têm conquistado leitores e mercados mundo afora. No Japão foram impressos 745 milhões de mangás em 2006 (em 1995 chegaram a ser impressos 1,34 bilhão de exemplares) e desde os anos 80 eles começaram sua invasão do Ocidente a partir da publicação nos Estados Unidos da série “Akira”. De lá prá cá, apesar do declínio de vendas no Japão nos últimos anos, os mangás conquistaram mercados na Europa e nas Américas, com as historinhas de “Os Cavaleiros do Zodíaco”, “Dragon Ball Z”, “A Princesa e o Cavaleiro” e “Astro Boy”, entre outros.


Desde o seu surgimento no final do século 19, as histórias em quadrinhos têm renovado constantemente sua linguagem e revelado artistas geniais e personagens inesquecíveis em todos os gêneros. Delas saíram alguns dos mais bem sucedidos e populares sucessos do cinema e da televisão nas últimas décadas. Até mesmo as artes plásticas, com a Pop Arte, e o teatro têm incorporado a linguagem e as criações dos quadrinhos. De arte de “menor valor”, os quadrinhos ganharam respeito e mercado. Apenas nos Estados Unidos, as vendas anuais de gibis alcançaram cerca de US$ 700 milhões em 2007, segundo estimativa da Comics Buyers Guide. Isso sem contar todos os subprodutos que eles geram, de miniaturas dos personagens a superproduções hollywoodianas.

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